quarta-feira, 2 de junho de 2010

A lenda do enfermeiro

Quando Deus criou o enfermeiro, teve de fazer horas suplementares. Era o sexto dia. Disse-lhe um anjo:

- Senhor, há muito tempo que trabalhais para fazer este modelo!

- Já pensaste na longa lista de símbolos especiais inscritos nesta encomenda? A obra tem de ser entregue sob a forma masculina e feminina, fácil de desinfetar, sem despesas de conservação e não pode ser de plástico. Ele deve ter nervos de aço, costas que resista a toda a provação, sendo ao mesmo tempo dócil e gracioso, para se poder sentir a vontade nos quartos de serviço demasiado pequenos. Deve poder fazer cinco coisas ao mesmo tempo, tendo o cuidado de manter sempre uma mão livre. - respondeu-lhe Deus.

O anjo abanou a cabeça e disse:

- Seis mãos, isso é uma coisa impossível.

- A dificuldade não está ai. O que me preocupa são os três pares de olhos que deve ter o modelo padrão; dois olhos para ver a noite através das paredes, durante as velas e para vigiar duas unidades; dois olhos atrás da cabeça para ver aquilo que não gostariam que ele visse, mas de que tem que ter absoluto conhecimento e, seguramente, dois olhos de frente, que olham para o paciente e lhe dizem: 'Compreendo-vos, estou aqui, não se preocupe' - Deus respondeu.

O anjo puxou-lhe gentilmente pelo braço e disse:

- Ide dormir Senhor, amanhã de manhã continuareis.

- Não posso. - respondeu o Senhor - Já consegui que raramente adoeça e se saiba tratar a si mesmo. Aceita que dez quartos duplos recolham quarenta doentes, mas nunca que dez postos de trabalho sejam apenas providos com cinco enfermeiros. Gosta muito da sua profissão, que exige muito dele e não é muito bem pago. Sabe viver com horários irregulares e, aceita ter poucos tempos livres.

O anjo andou lentamente em volta do modelo do enfermeiro e suspirou:

- O material é demasiado mole.

Deus replicou:

- Mas é tenaz. Tu não imaginas tudo o que ele pode pensar! Não somente pensar, mas avaliar uma situação e tomar compromisso.

O anjo inclinou-se mais sobre o modelo, passou-lho o dedo pela face e disse:

- Vejo aqui uma fenda. Já vos disse que experimentais várias coisas no vosso modelo.

- Esta fenda é feita por uma lágrima. - disse Deus.

- Porquê? - perguntou o anjo.

- Ela corre nos momentos de alegria, de tristeza, de decepção, de dor e de desamparo. - explicou-lhe Deus – É a lágrima que serve de tubo de escape para o excedente.

Fonte: www.quiosqueazulenda-dos-enfermeiros.html.com.br